segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Dever, Sangue e Magia


Um Homem que cumpre seu dever nunca tem dúvidas.

Se Você está lendo isto, talvez eu esteja morto ha muito tempo. Talvez você seja meu neto, ou um descendente muito distante, isso vai depender da competência dos malditos escribas que eu pago diariamente para cuidar de minhas anotações. É incrível como mesmo assim muitos de meus pergaminhos, livros e diários possuem traças.
Nem o mais poderoso mago do mundo descobriu um feitiço para elas eu creio.
O que interessa no entanto, é que se você chegou até aqui, está interessado em minha história.
Nasci em Vereerd, em um belo dia de outono, minha mãe dizia. Segundo ela, eu nasci no mesmo dia que tentaram cortar um velho carvalho de mais de mil anos no quintal da casa de meu pai. O velho defendeu a árvore com espada na mão e desde então ela virou o símbolo de nossa casa. "Você será tão forte quanto aquela velha árvore" dizia minha mãe, "e mesmo quando todos acharem que você não tem mais utilidade e quiserem arrancar suas raizes, ainda haverá quem enxergará em você valor, se você for justo, honrado e cumprir seus deveres"
Não posso dizer que vim de uma família pobre, pois meu pai sempre nos garantiu uma vida digna e ao meu ver, feliz. Ele um Sneider do Kaptein, muito querido por todos e acima de tudo pelo proprio cavaleiro supremo, que o presenteou com as terras e a nobreza das quais hoje sou dono.
Logo eu, seu único filho, me tornei como ele. Evolui assistindo as justas de feriado e observando os melhores cavaleiros. Mas apesar de crescer um guerreiro atento e sempre preparado para o perigo, algo me espreitava desde a primeira justa. Uma pirralha de cabelos vermelhos que sempre seguia meus passos, por mais que eu a enxotasse.
Blair estava sempre com a túnica suja de terra e as outras noviças riam dela. Era e sempre foi desastrada, mas se ela me ouvir dizendo isso, é capaz de descer aquela maça sobre minha cabeça.
O cavaleiro cresceu, envelheceu e a pirralha ganhou corpo, inteligencia e belos olhos.
Nos casamos em frente ao velho carvalho e se me lembro bem, foi o primeiro dos três dias mais felizes de minha vida.
Meus pais se foram como não poderia deixar de ser, mas não sem antes abençoar nossa união.
Muitas aventuras se passaram, eu e Blair éramos inseparáveis nas batalhas, ela uma clériga de Tyr e membro da casa Katten. Bela e Justa. E eu, um cavaleiro cheio de curiosidade, até o dia que encontrei um grimório mágico. Mystra veio em meus sonhos naquele dia e foi o mais perto que cheguei até hoje de trair minha esposa, e me culpo por isso da mesma forma.
Os feitiços começaram a ser mais comuns que a espada e logo a Lâmina Arcana se tornou meu destino. A casa Uil logo me abraçou e o título de Sneider, que meu pai tanto se orgulhava, enfim me foi dado.
Muitos duvidaram de minhas habilidades. Como os muitos inimigos da casa Uil costumavam dizer, eu era mais um guerreiro que preferia me esconder em subterfugios do que enfrentar a lâmina do inimigo. Até o dia em que o Kaptein Aaron Draak foi desafiado por um forasteiro misterioso.
Saquei minha lâmina e me coloquei á frente de meu senhor antes que qualquer outro exibido o fizesse. Muitos riram, mas minha espada atravessou a garganta do infeliz antes que ele pudesse dar o segundo golpe. Ele tombou, mas o primeiro golpe havia quase partido meu cranio, fazendo uma bela cicatriz, que provavelmente, você que está lendo deve ter visto em alguns dos meus retratos pintados de forma amadora nas paredes da casa. Não me culpe, coisas de Blair. O que importa é que calei muitos naquele dia, e provei que minha espada continua tão afiada quanto minha magia.
Enfim as guerras chegaram, as missões de proteção eram muitas e logo eu e Blair ficamos separados. Katrien nasceu quando eu estava com a guarda dos Sneiders expulsando uma horda de goblinoides de uma terra distante, e quando retornei coberto de sangue e vi aquela coisinha sorrindo pra mim, em seu vestido sujo, como de sua mãe, foi o segundo dia mais feliz de minha vida.
Estou escrevendo esses relatos, pois sinto que a sombra da idade da finalmente seus primeiros passos em direção a mim, e enquanto meu pequeno Arjan bagunça meus pergaminhos e finge fazer bolas de fogo com as tochas, eu olho pela janela e vejo o velho carvalho, imponente, invencivel e eterno e me pergunto se já é hora de preparar minhas raizes para que tentem cortá-las.
Mas não se anime, tenho energia para chutar muitos inimigos de Vereerd para fora e não estou escrevendo meu epitáfio.
Apenas sei que nunca se sabe quando a morte pode chegar, e passar minha história adiante é meu dever.
E Um homem que cumpre seus deveres, nunca tem dúvidas.

2 comentários:

  1. Muito bom P! Tão bom que transportei para o blog! ficou bem a cara dele e sinto que está bem a vontade com o personagem mesmo antes da primeira sessão, excelente! Não poderia esperar menos de você!

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  2. Poxa brigadão! Fico feliz que tenha gostado fiote! Tenho certeza que será um personagem muito bacana e me sinto seguro pois começo a dominar um pouco mais o sistema e isso faz uma diferença enorme. A ambientação e a proposta da aventura tb são inspiradoras! Muito ansioso pra começar!

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