terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O Que eu penso quando ninguém pode me ver



Oghua parece distante agora. Mesmo que eu sinta o cheiro das flores e da limpeza, dos aromas característicos. Mesmo que eu escute o som dos ferreiros forjando suas katanas e me lembre perfeitamente dos movimentos sincronizados dos treinamentos nos pátios. Oghua parece uma lembrança que não existe mais.
Minha irmã parece ter esperanças ainda, pelo que vejo. Isso é bom. De nós ela foi sempre a mais ingênua. Ou será mais sábia?
Vejo a cada dia nesses rostos que aprendi a respeitar e confiar um fio de esperança de rever minha casa, meu jardim e meu reino. Mas em cada desafio que enfrentamos, sinto que isso se torna distante. Será que Oghua já foi minha um dia? Ou será que meu destino é fazer com que seja?
Meu pai, o poderoso Yamato Misuki está junto dos ancestrais de nossa família agora. Minha mãe, Ayumi, ou seria Maltha? Simplesmente não é mais quem eu conheci ha alguns anos, ou talvez sempre tenha sido ela mesma e eu nunca percebi. Ela agora é uma ameaça, pois foi capaz de matar o homem com quem construiu nossa família, logo, destruiu essa mesma família no processo. Será que ela seria capaz de matar a mim e minha irmã com a mesma frieza? Será que ela teve motivos e o vilão nesta historia toda é o velho e inflexível samurai? Será que um dia, eu e minha irmã teremos que batalhar contra a outra até a morte, cada uma defendendo um dos lados da moeda?
Hoje eu sigo para o norte, disposta a encontrar algo que não faço a menor ideia do que seja. Buscando um mestre a quem servir sem nem saber quem é. Isso soa estranho não? Será mesmo que preciso servir alguém? Será que os ideais de meu pai foram assim tão errados?
Minha irmã pensa em morrer por isso, no fundo eu sei. Meu treinamento e minha filosofia são um tanto mais elásticos, mas mesmo assim sinto tristeza por isso. Lembrar que meu pai dedicou tantos anos, senão todos, á defesa de um ideal e morreu pelas mãos da mulher que um dia amou é uma adaga que fere meu coração, dia após dia.Lembrar dos dias alegres e tranquilos da companhia de pantomimeiros onde aprendi a ser uma guerreira das sombras, lembrar do sorriso de minha mãe e de tudo que ela me ensinou. Será que ela chorou? Será que ela não se lembrou do primeiro beijo que deu em meu pai, da noite onde eu e minha irmã fomos concebidas? Será que ela se lembrou disso depois de tirar a vida dele?
Como uma ninja, aprendi a ser fria, calculista e precisa. Por mais que todo esse dilema venha interferindo muito em tudo, minha pontaria, minha precisão, minha calma e paciência com os mecanismos. Isso precisa parar e é hora de traçar uma estratégia.
Nunca cogitei pedir ajuda aos espíritos, ou deuses, seja lá o que forem. Mas vejo o fervor e o sorriso da Paladina quando a espada dela rasga inimigos ao meio, e a determinação do Privilegiado quando ele salva nossas vidas. Será que não foi isso que nos faltou? Será que meu pai, em sua arrogância ignorou os deuses e os espíritos dos ancestrais que tanto nos amam? Será que esses mesmos deuses estão guiando minha mãe e guiaram sua lâmina contra meu pai? Acho que até mesmo o mago mudo tem alguma fé em suas crenças. Talvez isso me falte. Talvez isso falte a Oghua.
Procurarei então, nos espíritos a sabedoria para lidar com os vivos. Talvez eles guiem minha lâmina para o lugar certo, e talvez eu possa cumprir minha missão enfim, assim que descobrir qual é.

2 comentários:

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